quinta, 20 de março de 2025
ARTIGO

Estamos cansando do mesmo palavreado vazio, que todos os dias nos jogam no abismo

13 FEV 2025 - 09h59Por DANTE FILHO

Palavras cansam. Terminologia enjoam. Conceitos são descartáveis. A culpa é da mídia. A culpa é dos jornalistas preguiçosos. A culpa é nossa que vamos engolindo tudo sem mediação crítica.

Tudo é aviltante. Embarcamos nessa por repetição, por modismo, por burrice. Repetimos, repetimos, repetimos... 

Queremos convencer a sociedade por osmose conceitual, acreditando que assim vamos fazer a revolução, quando muito estamos apenas jogando água no moinho dos alarmistas, dos extremistas e dos niilistas.

Vamos lá. Vamos fazer aqui uma breve seleção de palavras que ocuparam e ocupam nossas mentes nos últimos tempos:

Reengenharia (lembram?) - Todo mundo usava essa palavra em reuniões e palestras. Era um jeito diferente de dizer que "vamos foder a sua vida" com demissões, corte de custos, redução de benefícios sociais. Coisa de neoliberal. O uso do termo era um jeito virtuoso dos "eficientes" jogarem na sua cara que você era um estorvo e que merecia ser jogado no abismo. Deu certo?

Neoliberal - Uma etapa avançada do liberalismo. O produto não significa nada. O importante é o dinheiro, os investimentos, a rentabilidade. O produto é você. Ou melhor: você é um algorítmico e só tem valor se compra ou vende. É uma versão moderna do Império Romano onde havia duas modalidades de seres humanos: quem penetra e quem é penetrado. Fora disso, não há chance.

Sustentabilidade - É quando você não quer sair do armário e assumir que aquilo que é produzido polui, detona, estraçalha, mas é disfarçado com um rótulo para amenizar o que realmente está acontecendo. É uma enganação. Ou melhor: em vez de correr em alta velocidade, reduz-se a marcha, usa um marketing fofinho, e livra o sentimento de culpa do estrago que está sendo obrigado a fazer para continuar mais rico do que já é.

Negacionismo - Essa tem sido o brilhante reluzente da coroa ideológica. Toda a pessoa que não concorda com nossos conceitos e visão de mundo é "negacionista". Os fatos e a realidade não importam. O fundamental é a minha percepção exclusiva. Basta um questionamento sobre um tema que se considera consagrado pela ciência e pela academia, pronto, o sujeito é colocado no limbo e excluído dos grupos da família e dos amigos. O negacionismo é pior que lepra. Estamos vivendo no tempo da proibição da dúvida. Qualquer desvio comportamental, chama-se o STF.

Bolsonarismo - Essa palavra tornou-se um clássico do Brasil polarizado. Qualquer divergência política óbvia, o interlocutor saca da cintura a frase certeira: "você é bolsonarista". Pronto. É um anátema. Você é colocado imediatamente no panteão dos canalhas. O objetivo é o constrangimento e a supressão da interlocução. Se você tenta a via da explicação e do esclarecimento, não adiante: não lhe dão o sacrossanto direito de fala. Você é submergido pelo ataque dos doces bárbaros, que atribuem a si mesmos a bondade, as virtudes e a sensibilidade democrática.

Lulismo - É outra versão do Bolsonarismo. Defender Lula ou tentar explicá-lo é chamar para si um pelotão de fuzilamento. De pronto, você é chamado de ladrão, jumento, membro do crime organizado. Qualquer coisa que aconteça de errado, seja no extremo sul do País, em Nanuque, ou na faixa de Gaza, já se ouve alguém gritando "Faz o L !", com aqueles dois dedos pra cima. Sinalizar que tem alguma simpatia pelo "Nine" é pior do que tomar banho de cuspe fervendo.

Aquecimento Global - Essa é a maior jogada do capitalismo internacional para fazer a virada e criar um novo modelo de dominação das massas. A terminologia se alia à palavra negacionismo. Fazem um par perfeito. Como se sabe (ou não, pois nada aqui é certeza) o planeta vai ferver e todo mundo vai morrer. Culpa: excesso de CO2 na atmosfera e peido de vaca. Para evitar isso nos próximos 50 mil anos (alguém está com pressa?) é conveniente tomar medidas preventivas. Para isso, fomenta-se o alarmismo, a cultura do medo, o terrorismo midiático, melhorando-se os instrumentos de dominação por meio das redes sociais, permitindo-se que três ou quatro rapazes acumulem trilhões de dólares. Não temam: estamos em boas mãos, agora sob a gerência de Trump.

Identitarismo - A esquerda inventou essa maluquice e a direita está faturando em cima dos ingênuos. Uma imbecilidade que, por nossa sorte, está acabando. Todo identitarista é um fascista disfarçado de Marxista de salão. Em nome da defesa dos excluídos eles estão mesmo interessados em montar ONGs e faturar verbinhas do governo. Trata-se de uma nova forma de opressão. Coisa inventada nos Estados Unidos, que por lá chamam de cultura Woke. Todo identitarista é um vagabundo que ganha mesada do papai e sai por aí fingindo-se de santo.

Trumpismo - Essa palavra é outro nome para "confusão", "caos", "maluquice". Só que tem método. Não se enganem, tudo é feito de caso pensado. Quanto pior, melhor pra ele. Falem mal, mas falem de mim. O resto, é bobagem.

(*) Jornalista e escritor sul-mato-grossense, atuando na imprensa do Estado há mais de 40 anos.

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