terça, 29 de abril de 2025
ARTIGO

Brisa sulina

20 FEV 2025 - 16h56Por MANOEL MARTINS DE ALMEIDA

Impressionante como fatos da Natureza conseguem marcar definitivamente momentos e lugares de nossas vidas. O nascer e o pôr do sol, o barulho cadenciado das ondas do mar, o cheiro da maresia, o cantar de algum pássaro, tudo isso é maravilhoso quando nos remete a instantes felizes e inesquecíveis.

Pois, precisamente hoje, a minha cidade amanheceu com um clima gostoso e cheio de leveza. O vento brando vindo do Sul, com suaves rajadas, despertaram em minha mente momentos da longínqua mocidade, quando os horizontes ainda não tinham limites e a paixão pela atividade pecuária guiava meus pensamentos. Em um átimo experimentei com imenso prazer a energia e a esperança próprias daquela época cheia de promessas e de assumidas aventuras.

Aquela brisa fresca e benfazeja, como por encanto, empurrou para fora do meu espírito o peso da idade e me vi em meu Jeep Williys, cortando os campos da fazenda Santa Maria, na região do Porto da Manga.

Capota arreada, sentindo o vento que vinha dos brejos e dos cambarazais me aproximo do retiro à beira do Corixo do Saran.

Como era bom chegar ao nascer do sol, quando emanava das águas o vapor da manhã fria, ainda não totalmente assumida, com o aroma do café que se espalhava do interior do rancho de palha bem construído e prazeroso.

A saudação alegre do retireiro ao ver seu patrão empenhado no serviço programado, as primeiras prosas ainda não carregadas de cobranças e prestações de contas.

O mangueiro lotado de bois em movimentos nervosos com a correria da tropa e as estridentes "gaitadas" da peonada, com certeza lembrando de casos vividos na cidade.

Do Jeep descem os isopores com gelo e vacinas, encomendas para a comitiva e para a despensa. Claro, também, dois surtuns e um granito para o almoço e uma garrafa de Katira, alegria da rapaziada na hora de encarar o brejo antes da janta.

Mas o telefone toca e sou lançado para o mundo real. Ainda emocionado pelas queridas lembranças, bendigo a brisa sulina que me trouxe tão doces recordações. 

Vida que segue!

(*) Produtor rural do Pantanal do Paiaguás, Corumbá/MS

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