terça, 16 de abril de 2024

Assombrações ou contatos trans dimensionais no Pantanal?

01 JUN 2021 - 09h17Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

A boiada berrando,
Piraim estralando,
Berrante do ponteiro
Sem nunca encerrar no curral!

O carro de boi
Que passa à noite,
Rodas batendo,
Tamoeiros ringindo,
Carreiro ralhando,
Chicote executando...
De manhã, nem sinal!

Zinga grosando na madeira,
Água cantando na proa,
Conversa de proeiro e piloto,
Falta só dobrar a curva,
Nem chum!

O solitário perdido,
Desesperado na imensidão,
Encontra outro cavaleiro,
Que ensina o rumo,
Empresta papel e fumo,
Compartilha o fósforo,
E some sem deixar rastro!

Desse jeito as assombrações,
que aparecem por aqui,
Sempre labutando,
Continuando,
Sem descanso,
Sem esmorecimento
na mesma tradicional
e antiga faina!

Dormem em rede,
Plantam roça,
Ralam guaraná,
Torram farinha,
Moem cana,
Tiram ponto do melado
Para rapadura e açúcar de barro!

Tambereiam vacas e bezerros,
Mansam boi de carro,
Montam em redomão,
Vão no porto levar e buscar traias!

Trabalham gado,
Matam mosquitos,
Mutucas e porvinhas,
Padecem calor e frio,
Molham na chuva,
Mateiam e rodam tererê,
Num vi,
Mas desconfio
Que até vão em festa!

Temporal indistinto do espiritual,
Realidade e sonho,
Natureza e humanos,
Vivos num único ser!
Suas orações são sempre cantos,
A louvar São Sebastião,
Que nos livra
Da peste, fome e guerra!

Cantando pra São Pedro chegar,
Para cuidar do tempo,
Amansar tempestade,
Trazer chuva na seca,
Aliviar calor com vento,
Amainar o frio!

Quem, senão
O Divino Espírito Santo,
A soprar uma solução
Do que parecia impossível?

A ensinar que
Por aqui passou um homem,
Com uma cruz muito pesada!

Que a casa de São Benedito
Cheira a cravo e rosa,
Flor de Laranjeira!

O velho de barbas brancas
Que atravessou o oceano,
Quando aqui chegou,
Entre os moradores deste lugar,
Viu que pecado não havia!

Era como Paraíso na Terra!

De São Tomé
Virou Sumé,
E mostrou
Como o Senhor queria
Que fossem usados e conservados,
Plantas,
Bichos,
Águas,
Terras!

E a quem amasse,
Verdadeiramente,
Aquela linda obra do Criador,
Deixou uma benção!

Para o povo pantaneiro,
Quando chega a hora
De abandonar o corpo físico,
É este amor pelo Pantanal,
Pela Divina bênção,
Que vai repetir o milagre,
De mudá-los de dimensão!

Deixou gravado
No inconsciente coletivo,
Que quem merecer,
Ficará eternamente
"Sofrendo" e desfrutando
A felicidade da velha vidinha,
Neste Paraíso do Pantanal

(*) Pantaneiro de Corumbá (MS)

Leia Também

Relatos de viagem

A decoada, o armau e história de pescador no Pantanal do Nabileque

Mais Relatos de Viagem

Megafone

Todo equívoco humano é satirizável. Enquanto houver ser humano com suas carências, inseguranças e dúvidas, haverá sátira

Ziraldo (1932-2024)

Vídeos

Bonito, um convite à sustentabilidade

Mais Vídeos