A boiada berrando,
Piraim estralando,
Berrante do ponteiro
Sem nunca encerrar no curral!
O carro de boi
Que passa à noite,
Rodas batendo,
Tamoeiros ringindo,
Carreiro ralhando,
Chicote executando...
De manhã, nem sinal!
Zinga grosando na madeira,
Água cantando na proa,
Conversa de proeiro e piloto,
Falta só dobrar a curva,
Nem chum!
O solitário perdido,
Desesperado na imensidão,
Encontra outro cavaleiro,
Que ensina o rumo,
Empresta papel e fumo,
Compartilha o fósforo,
E some sem deixar rastro!
Desse jeito as assombrações,
que aparecem por aqui,
Sempre labutando,
Continuando,
Sem descanso,
Sem esmorecimento
na mesma tradicional
e antiga faina!
Dormem em rede,
Plantam roça,
Ralam guaraná,
Torram farinha,
Moem cana,
Tiram ponto do melado
Para rapadura e açúcar de barro!
Tambereiam vacas e bezerros,
Mansam boi de carro,
Montam em redomão,
Vão no porto levar e buscar traias!
Trabalham gado,
Matam mosquitos,
Mutucas e porvinhas,
Padecem calor e frio,
Molham na chuva,
Mateiam e rodam tererê,
Num vi,
Mas desconfio
Que até vão em festa!
Temporal indistinto do espiritual,
Realidade e sonho,
Natureza e humanos,
Vivos num único ser!
Suas orações são sempre cantos,
A louvar São Sebastião,
Que nos livra
Da peste, fome e guerra!
Cantando pra São Pedro chegar,
Para cuidar do tempo,
Amansar tempestade,
Trazer chuva na seca,
Aliviar calor com vento,
Amainar o frio!
Quem, senão
O Divino Espírito Santo,
A soprar uma solução
Do que parecia impossível?
A ensinar que
Por aqui passou um homem,
Com uma cruz muito pesada!
Que a casa de São Benedito
Cheira a cravo e rosa,
Flor de Laranjeira!
O velho de barbas brancas
Que atravessou o oceano,
Quando aqui chegou,
Entre os moradores deste lugar,
Viu que pecado não havia!
Era como Paraíso na Terra!
De São Tomé
Virou Sumé,
E mostrou
Como o Senhor queria
Que fossem usados e conservados,
Plantas,
Bichos,
Águas,
Terras!
E a quem amasse,
Verdadeiramente,
Aquela linda obra do Criador,
Deixou uma benção!
Para o povo pantaneiro,
Quando chega a hora
De abandonar o corpo físico,
É este amor pelo Pantanal,
Pela Divina bênção,
Que vai repetir o milagre,
De mudá-los de dimensão!
Deixou gravado
No inconsciente coletivo,
Que quem merecer,
Ficará eternamente
"Sofrendo" e desfrutando
A felicidade da velha vidinha,
Neste Paraíso do Pantanal
(*) Pantaneiro de Corumbá (MS)
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