quinta, 18 de abril de 2024

A novela Pantanal e a autoestima corumbaense

07 ABR 2022 - 10h44Por ARTURO CASTEDO ARDAYA

A novela Pantanal, escrita por Benedito Ruy Barbosa e direção de Jayme Mojardin, foi exibida no início da década de 90, com estrondoso sucesso na TV Manchete, superando a Globo no Ibope. Não tínhamos sinal da Manchete em Corumbá, sabíamos do seu sucesso pelos jornais, revistas e amigos de fora que nos perguntavam sobre o Pantanal, corumbaenses que se mudaram, cheios de orgulho do nosso bioma.

Corumbá, nessa época, vivia em decadência, com êxodo de centenas de seus cidadãos, principalmente para a nova capital, Campo Grande, que teve um alto crescimento após a divisão de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul. Aqui não havia mais as indústrias, trem de passageiros, o asfalto da BR 262 incompleto, sem ponte sobre o Rio Paraguai, sem aviões de carreira. Estávamos isolados, comércio definhando, sem carnaval de rua, com a esperança e autoestima lá embaixo. 

O corumbaense da cidade nunca tinha valorizado o Pantanal, seu foco era o comércio, que tinha sido muito forte no pós Guerra do Paraguai com a navegação e a indústria, que tinha dado alguns passos com a Fiação Sobramil, Ferro Ligas e Cervejaria. Indústrias estas já fechadas na década de 90, permanecendo aberto somente a Cimento Itaú já com poucos empregados.

O nosso Pantanal e o pantaneiro não eram valorizados. O Pantanal era tratado como um brejo, que nem dava plantar de forma extensiva por restrições ambientais; nas fazendas o gado criava os donos, não o contrário, em grandes extensões de terras, em mãos de poucas famílias. O pantaneiro era tratado como um cidadão de segunda classe, periférico, jeca-tatu, caipira.. 

Foi a novela Pantanal que nos fez mudar de fora para dentro. Poucos corumbaenses e sul-mato-grossense conheciam e demonstravam amor pelo Pantanal, a maioria nunca tinha ido a uma fazenda, navegado pelo rio. A novela nos transformou, aumentou nossa autoestima, interesse pelo lugar, começou aparecer os defensores do Pantanal, os pioneiros de pousadas, turismo fluvial e pesca, que se desenvolveu enormemente. Surgiu um adesivo "Pantaneiro Mesmo" como afirmação do que éramos - e começávamos assumir nossa identidade. 

A novela é um marco na história, encantou o mundo, fez que prestassem atenção a este pedaço único e maravilhoso da Terra, a valorizá-lo e procurar preservá-lo. O Mato Grosso do Sul e suas cidades pantaneiras, e até Bonito. passaram a ter mais um viés desenvolvimentista com o turismo, a economia naquela década se resumia em soja e boi. Deu luz a nossa cultura, como o artesanato, a forma de viver e, principalmente, nossa música, que despontou em nível nacional. 

Sugiro aos nossos representantes em nível nacional, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, prefeituras pantaneiras, câmaras de vereadores homenagens ao Benedito Ruy Barbosa e Jayme Mojardin pelo que o nosso Estado já ganhou com o advento desta novela e que novamente nos colocará em foco, no remate da Globo. 

Eu amo o Pantanal! Pantaneiro mesmo!

(*) Ativista cultural, corumbaense descendente de bolivianos

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