sexta, 19 de abril de 2024
CENÁRIOS

Turismo não aguenta um segundo lockdown, afirma presidente da Fundtur/MS

03 MAR 2021 - 12h23Por SÍLVIO DE ANDRADE/JORNAL DA HORA

Um confinamento nacional ou parcial para frear o avanço da segunda onda do coronavirus, defendido por alguns setores, traria resultados catastróficos ao turismo, com o fechamento de grande parte das empresas e dos atrativos, com efeitos a toda a cadeia produtiva.

O alerta foi feito pelo diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso o Sul (Fundtur), turismólogo Bruno Wendling, em entrevista ao Jornal da Hora, da Rádio Hora, comandado pelo jornalista Arthur Mário.

“Algumas empresas não vão conseguir segurar um segundo fechamento se houver novo lockdown”, disse Wendling, informando que a pandemia atingiu diretamente mais e 50% do segmento no ano passado, incluindo o setor aéreo.

A entrevista do diretor-presidente da Fundtur está sendo publicada por LUGARES, com reedição para acréscimo de novos dados e informações, e aponta, apesar de tudo, um otimismo do Governo do Estado e do setor quanto a retomada em 2021, embora lenta, ainda dependendo do nível de vacinação da população contra o vírus.

Com as novas variantes e as barreiras sanitárias impondo cada vez mais restrições para as viagens ao exterior, as estratégias de Mato Grosso do Sul e do trade são de movimentar o turismo nacional, com a ampliação dos voos, e focar também no turista sul-mato-grossense. Alguns destinos, como Bonito, estão lançando promoções para quem nasceu no Estado.

“O turismo estrangeiro é o que mais vai demorar para voltar, então estamos focando nos destinos nacionais e regionais, inclusive a visitação por MS”, afirmou Bruno Wendling na entrevista ao Jornal da Hora. Ele adiantou que o Estado irá lançar uma campanha, em meados de abril, para atrair o turista sul-mato-grossense. 

Acompanhe a entrevista ao Jornal da Hora:

  1. A pesca esportiva está liberada nas nossas duas bacias, dos rios Paraguai e Paraná, quais as expectativas e os impactos em meio a pandemia de um produto que potencializa o nosso turismo, com essa diversidade imensa, a variedade de peixes?

Bruno Wendling: “Expectativa é muito boa, depois de um dos piores anos, principalmente para quem vive de turismo. Reabertura da pesca com base numa medida audaciosa do governador Reinaldo Azambuja de reduzir a cota de captura, que tem refletido no repovoando dos rios. Conversando com pescadores, ouvimos relatos de muita pesca do dourado, o que é muito bom no aspecto não só ambiental, mas também econômico, pois atrai cada vez mais turistas. O setor se preparou para esse retorno, com suas estruturas prontas, readequadas para esse momento, com os protocolos de higienização. A pesca esportiva tem um impacto muito grande na economia do Estado, principalmente nas regiões do Pantanal e de Três Lagoas, e esperamos recuperar boa parte dos prejuízos de 2020 aguardando, naturalmente, que a pandemia seja controlada e a vacinação aumente”.

  1. O turismo tem sido um dos setores mais impactados com a pandemia, diferentemente de outros segmentos, como o agronegócio, e em que pese algumas medidas do governo federal de socorro, no meio do caminho os recursos não chegaram e muitos empreendimentos foram fechados. Como foi essa questão da liberação dos recursos?

Bruno: “Realmente foi um ano muito difícil. Entre o anúncio do Ministério do Turismo, em maio do ano passado, de liberar R$ 5 bilhões do Fungetur (Fundo Geral do Turismo), até os recursos chegarem de fato aos estados, especial em Mato Grosso do Sul, foi uma longa espera de dez meses. Depois de muito esforço e pressão, conseguimos que o recurso fosse disponibilizado aos empresários com a parceria do BRB (Banco de Brasília), já que a Caixa Econômica Federal não estava conseguindo atender a demanda e não quis operar o Fungetur. Realizamos recentemente uma live, junto com o BRB e a Caixa, modelada pelo Sebrae, para esclarecer alguns pontos do Fundetur, para que os empresários consigam acessar esses recursos, que já eram muito necessários no ano passado e continuam sendo. Alguns setores estão com dificuldades de voltar, pagar folha dos funcionários e  precisam reinvestir agora na reabertura”.

  1. Em relação ao turista estrangeiro, aquele que visita o Pantanal e Bonito e deixa uma parcela importante de recursos para gerar essa cadeia?

Bruno: “O turismo estrangeiro é o que mais vai demorar retornar, não há condições de viajar para fora, a vacinação segue a passos lentos, o que dificulta ainda mais. Nesse momento estamos com o mínimo de visitação estrangeira em função das barreiras sanitárias impostas pelo mundo, principalmente ao Brasil, e com medo agora das novas ondas. Estamos com muitas dificuldades de receber turistas estrangeiros e isso vai demorar um pouco mais para normalizar. Estivemos outro dia numa reunião com a ABEAR (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), e o presidente do setor, Eduardo Sanovicz, nos disse que a aviação internacional somente voltará ao patamar de 2019 nos próximos três anos. Ou seja, ainda há muito caminho para retomar, por isso o foco vai ser muito mais voltado para o mercado nacional e regional, nos destinos principais e abrindo novas frentes de atratividade até que a pandemia seja controlada de fato e a vacinação seja feita na sua plenitude. Estamos apostando muito no turismo regional, inclusive buscando atrair os sul-mato-grossenses, a quem vamos dedicar uma campanha exclusiva em abril para incentivar quem é do Estado visitar nossos atrativos. Também estamos trabalhando com o turismo nacional, somos próximos a dois grandes emissores, São Paulo e Paraná, e também articulando a regularização da malha aérea para recebermos os brasileiros”.

  1. O que você acha desse movimento do lockdown, com alguns estados já tomando medidas mais extremas? Quais os efeitos para o turismo caso seja decretado em boa parte do país?

Bruno: “Para a economia é péssimo, naturalmente, não vou entrar no mérito da saúde, sabendo, no entanto, que estamos vivendo um momento muito delicado. Para a economia, será um impacto enorme, como foi no período em que os destinos ficaram fechados no ano passado por três meses. Isso significa zero de receita, o turismo é um tipo de atividade que vive de serviços diariamente, ele não estoca produtos, não tem capacidade para sobreviver vários meses fechado e depois abrir, escoando seu produto. Uma diária não vendida nunca mais será comercializada, o mesmo para um assento de avião; um passeio nunca mais será vendido naquele dia. Entendemos que alguma medida seja necessária agora para controle da situação da saúde da população, mas esperamos que não seja o lockdown. Se o setor fechar novamente, vai significar o fechamento definitivo de muitas empresas”.

  1. Dentro desse quadro grave que estamos passando, você tem números do que fechou, do que retornou à atividade? Qual é o cenário?

Bruno: “Fizemos algumas pesquisas por meio do Observatório do Turismo, os relatórios inclusive estão disponibilizados no site da fundação (www.turismo.ms.gov.br). Realizamos ao longo da pandemia uma série de levantamentos, sondagens junto aos empresários, situação de empresas fechadas, etc. Uma média de 50% das empresas à época tiveram muitas dificuldades, houve perda de empregos, algumas recuperando ao longo do tempo, variando de segmento para segmento. O setor aéreo, para se ter uma ideia, sofreu uma queda de 90% no número de voos no mês de abril. Em alguns setores, essa perda chegou a 70% de fluxo com o fechamento dos destinos. Um cenário muito triste. Temos muita informação qualificada, que pode ser acessada, uma espécie de retrospectiva de 2020, que demonstra um impacto muito forte, o prejuízo realmente foi muito grande.”

Acompanhe: 

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