Aos 33 anos, a mãe de dois filhos é uma das modelos mais reconhecidas no mundo, a modelo-ativista britânica-norte-americana Arizona Muse já participou de campanhas para as maiores marcas do planeta, incluindo Chanel, Prada, Louis Vuitton e Yves Saint Laurent, e já apareceu na capa de mais de 40 edições internacionais da revista Vogue desde os 18 anos. Nos últimos seis anos, tornou-se uma apaixonada e renomada ativista de sustentabilidade e regeneração ambiental, e uma das principais vozes sobre o assunto na indústria da moda. Mais recentemente, foi escolhida embaixadora da campanha global Salve o Solo, promovida pela farmacêutica Weleca. Em 2021, ela lançou a DIRT, que apoia e promove projetos de agricultura que estão eliminando produtos químicos nocivos e, em vez disso, rejuvenescem a vida no solo, aumentando consideravelmente sua habilidade de capturar e armazenar carbono, bem como fornecer imensos benefícios para a vida selvagem, a absorção e retenção de água, e a produção de alimentos e fibras. A ambição da DIRT é ajudar o movimento de agricultura biodinâmica a se expandir pelo mundo, além de aumentar a oferta e a demanda por matérias-primas cultivadas de forma biodinâmica. Nascida no Novo México, nos Estados Unidos, Arizona, que também atua como consultora de sustentabilidade para marcas de moda que desejam minimizar seu impacto ambiental, faz parte do conselho da organização sem fins lucrativos The Sustainable Angle, líder em recursos para fornecimento de materiais sustentáveis. Ela também contribui para a Fashion Revolution, uma equipe de líderes empresariais, legisladores e marcas que trabalham juntos para mudar radicalmente a maneira como as roupas são adquiridas, produzidas e consumidas. Ela é uma embaixadora do Greenpeace e da Women for Women, e também colaborou em campanhas com a Oxfam e várias organizações das Nações Unidas, incluindo UNDP, UNEP e UNFAO.
Sua entrevista:
1. Qual aspecto da sustentabilidade você acha mais difícil de se comprometer?
Arizona Muse - Para mim, comprar de forma sustentável não é um compromisso. Eu percebi que não vivo uma vida de negação, eu não entro em uma loja e sinto como se estivesse me privando de um vestido de paetês ou de um utensílio de cozinha de plástico. Em vez disso, eu realmente não desejo tê-los na minha vida porque sei sobre o impacto que tais produtos têm no meio ambiente. Meu conhecimento me protege. Ocasionalmente, eu posso precisar de algo que não consigo encontrar em uma versão sustentável e, neste caso, tento comprar de segunda mão. Preciso reconhecer o meu privilégio aqui. Eu pertenço à porcentagem do mundo que tem estilos de vida mais poluentes: eu viajo de avião, tenho aquecimento central e moro em países que importam grandes quantidades de “coisas” do resto do mundo. Preciso reconhecer isso. Estou fazendo o meu melhor para viver uma vida mais sustentável e acredito que o melhor impacto que posso causar é através das escolhas que faço sobre como usar o meu dinheiro e o que escolho ensinar aos meus filhos. Estamos presos em um sistema que mantém a maioria do nosso povo sem o luxo de poder escolher sobre esses assuntos, já que a versão sustentável de tudo pode ser mais cara. Eu sinceramente espero que não seja o caso por muito mais tempo e eu convido a todos que ainda não começaram a apoiar a desconstrução do nosso sistema atual, que recompensa privilégio e é profundamente injusto.
2.Quais lições você ensina aos seus filhos sobre o planeta, a saúde do solo e a vida sustentável?
“Eu ensino meus filhos tudo sobre a agricultura biodinâmica - os princípios por trás dela, mas também algumas lições práticas. Eu adoro levá-los comigo para serem voluntários em fazendas biodinâmicas. Meus filhos passam muito tempo na natureza, o que eu também tive o privilégio de fazer quando era mais jovem. Eu tento garantir que eles se conectem com o mundo natural - que eles encontrem uma quietude nele, que tentem encontrar algo bonito, usando todos os seus sentidos. Eu tenho tentado ensinar aos meus filhos a importância de um estilo de vida de baixo impacto e como é gratificante viver com menos. É uma lição que eu aprendi com a minha mãe. Ela é uma pessoa que percebeu que queria viver com muito pouco e ela é tão feliz e realizada que é incrível. Seu lema é “eu vivo simplesmente para que outros possam simplesmente viver”. Acima de tudo, quero garantir que, ainda que meus filhos estejam totalmente cientes da crise climática e da atividade humana por trás dela, eles não se desesperem. A eco-ansiedade está, compreensivelmente, aumentando entre os jovens - mas uma mudança sistêmica e significativa é possível. O futuro não está escrito - podemos refazer o mundo e torná-lo melhor. Já temos as ferramentas e muitas pessoas já estão trabalhando em soluções. A esperança existe - só precisamos que os setores governamentais e empresariais arregacem as mangas.”
3.Por que você é tão apaixonada sobre saúde do solo? Por que é tão importante protegê-lo?
“Assim que comecei a me educar sobre a crise climática, fiquei fascinada pelo solo. Quase todas as matérias-primas que precisamos na vida vêm do solo. Algumas são cultivadas, como algodão, alimentos, madeira e ingredientes usados nos cuidados da pele. Outras são extraídas, como os metais e minerais que se tornam nossos carros e computadores. Um solo saudável protege a biodiversidade, previne inundações e retém carbono que, de outra forma, seria liberado na atmosfera como gases de efeito estufa. É fundamental para nossa existência, e ainda assim, devido aos efeitos da agricultura industrial, este recurso tão precioso está em crise. Comecei a aprender que há maneiras de reparar os danos ao solo. A agricultura biodinâmica oferece uma solução holística para os desafios ecológicos que enfrentamos, transformando terras estéreis em solos férteis, que armazenam carbono e absorvem água como uma esponja. Eu acredito que seja um dos nossos maiores trunfos diante das mudanças climáticas. Eu costumava pensar sobre solo como uma entidade única, um cobertor homogêneo sobre o qual caminhamos, cultivamos árvores e plantas. Mas na verdade é um organismo vivo, que respira. É feito de trilhões de microorganismos e pedaços de micropartículas de matéria vegetal morta que, por sua vez, são alimento para redes incríveis e complexas de bactérias e fungos e, claro, a matéria viva das raízes das plantas. Para aprender o máximo possível sobre o solo, eu li diversos livros e artigos, continuo assistindo a vídeos no YouTube, troco e-mails com professores e, o melhor de tudo, vou a fazendas biodinâmicas como voluntária -- conversar e aprender com os próprios agricultores. Há um limite do que você consegue descobrir sem sujar as mãos.”
4.Como você descreveria a agricultura biodinâmica em poucas palavras?
“A agricultura biodinâmica é um tipo de agricultura regenerativa, certificada pelo Demeter, que melhora e mantém a saúde do ecossistema, impactando positivamente a biodiversidade e o microbioma do solo. Ela não usa nenhum produto químico: os fazendeiros veem suas fazendas, vinhedos, florestas e jardins como organismos vivos, e eles desenvolvem a biodiversidade e incentivam a regeneração do solo. A biodinâmica pode ser aplicada para cultivar alimentos e fibras, gerenciar florestas, criar gado e regenerar paisagens naturais ou locais que tenham sido explorados por empreendimentos humanos. Usar métodos biodinâmicos significa que a cada ano de produção, a vida sob o solo de uma fazenda biodinâmica se torna mais saudável, povoada por trilhões de microorganismos e mais capaz de absorver as chuvas. Se todas as terras fossem gerenciadas de forma biodinâmica, a biodiversidade poderia ser restaurada, e mais pessoas poderiam ter empregos significativos e gratificantes imersos na natureza. A comida que comemos, os materiais que vestimos e os ingredientes que usamos no cuidado com a pele poderiam ser livres de químicos, e aqueles que perderam o relacionamento com a terra em que vivemos poderiam começar a reconstruí-lo. Aprender sobre os meandros da agricultura biodinâmica é fascinante - e complicado. Morei na cidade por 13 anos e me considero uma amadora, mas todos temos que começar de algum lugar. Eu faço principalmente como voluntária em fazendas biodinâmicas próximas, mas recentemente nos mudamos para o interior da Espanha e agora tenho uma pequena horta na minha casa. Esse ano, ao que parece, cultivei meu jardim para os insetos. Eles comeram tudo! (Menos os pepinos, eles foram poupados). Aprendi que isso significa que meu solo não estava saudável - ao adubar meu jardim, acabei introduzindo muito nitrogênio. Quando o solo tem um equilíbrio de nutrientes, minerais, redes de microorganismos e fungos, as plantas têm um sistema imunológico mais forte e os insetos não são atraídos por elas!”
5.Como seu trabalho com a instituição de caridade DIRT e sua paixão pelo solo se relacionam com o que você está fazendo na campanha Salve o Solo?
“Estou muito feliz que a DIRT e a Weleda lançaram juntas essa linda campanha sobre a pele da Terra - o solo - e como todos podemos protegê-la e nutri-la, como fazemos com nossos rostos e corpos. Por meio da DIRT, espero apoiar muitas fazendas e projetos incríveis que estão regenerando o solo no mundo todo usando métodos biodinâmicos, bem como aumentando a oferta e a demanda por matérias-primas cultivadas de forma biodinâmica, incluindo algodão, madeira, couro e alimentos. Um terço do solo da Terra está degradado e, assim como a Weleda está fazendo, devemos agir com urgência para reverter os danos, nutrir o solo por meio de métodos naturais, e torná-lo o mais biodiverso possível. Por meio da campanha Salve o Solo, queremos enfatizar que, assim como cuidamos do ecossistema vivo que é a nossa pele, devemos fazer o mesmo com o solo - que fundamentalmente sustenta nossa vida na Terra.”
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