quinta, 25 de abril de 2024
ENTREVISTA

"Bonito Blues & Jazz tem aproximado artistas dos países limítrofes!"

30 MAI 2023 - 12h42Por ALEX FRAGA

Um cara de visão e sempre teve a preocupação em levantar e oferecer Cultura para o público sul-mato-grossense e de uma maneira mais especial, através de seus vários projetos que idealizou, como Cine Clube Uirá, Espaço Cultural Guató, Festival de Inverno de Bonito e o próprio Bonito Blues & Jazz Festival que entrou em seu décimo ano agora em junho, realizado de 8 a 10. Em entrevista ao Blog do Alex Fraga, o douradense, produtor cultural e empresário Afonso Rodrigues Jr, atualmente residindo em Campo Grande, fala um pouco de sua história e novos projetos que estão por vir como o recente, o “Circuito Cultural Guarani Conecta MS”.

1. Como um engenheiro mecânico automobilístico foi parar na área cultural? Sua primeira produção foi logo com show de Almir Sater? Fale um pouco de sua história...

Afonso Rodrigues Jr. - Moramos em Dourados e sempre íamos passar as férias escolares em Cuiabá, cidade de origem da minha mãe, e meu tio Walter Carneiro estudava no Rio de Janeiro e nesse período ele também ia pra Cuiabá e trazia vários discos quando colocava os sobrinhos na sala da casa para escutarmos músicas e dançar e tal. Isso marcou bastante o gosto musical pela boa música, pois ele sempre teve um gosto musical apurado. Foi quando conhecemos a nata da música brasileira como Simonal, Renato e seu Blue Caps, Trio Ternura, Bob Fleming e muitos outros.

Em Dourados, aos 11 anos, atravessando a Praça Antonio João para levar minha irmã à escola de piano, escutei "Alegria, Alegria" do Caetano Veloso (1967) e pedi ao meu pai dinheiro pra comprar o compacto simples com a gravação do Festival da Record e aí comecei a adquirir discos dos compositores brasileiros. 

Em 1972 vim para Campo Grande estudar no Colégio Dom Bosco onde conheci Almir Sater e tive conhecimento com as bandas de rock ’n roll através de colegas de sala quando trocávamos discos e conhecimentos, período frutífero de novas amizades que perduram até hoje.

No ano de 1975, mudei pra São Paulo para com o objetivo de cursar Engenharia Mecânica Automobilística na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), quando conheci o colega de sala, Agnelo Hellou, que estudava trompete com o grande músico argentino, Hector Costita. Ele me apresentou os ícones do Jazz mundial como Miles Davis, Return to Forever, Wheather Report e por aí afora. Ao mesmo tempo, outro engenheiro, Hiroshi Fujii, mostrou-me o que era o Blues com sua simplicidade rítmica, porém com uma expressão de sentimentos poderosíssima. Fiquei maravilhado com aquele som.

Após um período de trabalho na engenharia da Chrysler Automóveis e depois Volkswagen Caminhões retornei para Dourados para assumir negócios da família. Em julho de 1983 encontrei com Almir e perguntei à ele por que não ainda não tinha feito show em Dourados? Ele respondeu: “Ninguém convidou ainda!". Aí combinamos e fizemos a primeira apresentação dele na cidade em agosto de 1983. Peguei gosto pela coisa e a partir de então comecei a produzir vários eventos, como o Cine Clube Uirá (coordenado pelo Luis Carlos “Chico” Rossini), o Espaço Cultural Guató dedicado às artes plásticas, sempre no Alphonsus Hotel.

No início dos anos 90, abri a CD Point, comercializando CDs e DVDs, quando uní o hobby ao negócio, pois sempre fui “rato de loja”, garimpando discos em toda loja de discos que eu visitava. A partir dessa iniciativa eu incremento a produção cultural com diversos shows dos artistas que lançavam seus novos discos na loja, que foi o caso do Chamamé quando lancei em Dourados, Grupo da Terra, Chama Campeira, Grupo Zíngaro e muitos outros, mas sempre querendo trabalhar com Blues e Jazz que são os estilos musicais que mais me agradam.

Meu amigo Waldir Guerra era proprietário da Terra FM e através do seu filho, Alan Guerra, patrocinei a criação do programa Terra Blues em que eu fornecia os discos e literatura a respeito do Blues para o apresentador Pieretti e assim cada vez mais eu me aprofundava no tema.

2. Muitos se esquecem, mas pelo que se sabe você foi idealizador do Festival de Inverno de Bonito. Conte como surgiu a ideia?

Afonso Rodrigues Jr. - No início do ano 2000 aconteceu várias edições do Temporadas Populares no MS. O produtor de Brasília, Zelito Passos, hospedava no Alphonsul Hotel durante as edições de Dourados e eu já tinha o La Paloma Residende, em Bonito. Foi quando conversando com Zelito, o convidei para conhecer Bonito. Durante a visita apresentei a ideia de um festival multicultural a exemplo de outras cidades turísticas, pois a cultura e o turismo “andam de mãos dadas”. Ele concordou imediatamente e disse que eu precisava conhecer o Nilson Fonseca, organizador do Temporadas, e apresentar ideia a ele. Assim marcamos um encontro logo que o Nilson retornasse para o MS, pois ele residia em Brasília na época. Marcamos esse encontro no La Paloma Residence e ao conhecer Bonito, Nilson ficou encantado com a ideia e disse: "Vrecisamos apresentá-la ao governador Zeca do PT e se ele gostar da ideia tocamos adiante".

Esse encontro aconteceu por intermédio da Ângela Costa, secretária de Cultura da época, num domingo na casa do governador, que imediatamente aprovou a ideia nos autorizando a desenvolver o projeto que o governo bancaria os custos. Assim começou em julho de 2000 a primeira edição.

3. Festival de Blues e Jazz em Bonito. Fale sobre o início de tudo...

Afonso Rodrigues Jr - Em Bonito fiz vários eventos simultaneamente aos realizados em Dourados, porém nada ligado ao Blues e Jazz. Eu estava ficando saturado dos eventos que realizava, mas não me satisfazia quanto ao estilo musical. Aí pensei: "Vou fazer algo que eu goste e receba amigos e simpatizantes da música".
 
Foi quando idealizei o Bonito Blues. Fui à São Paulo conversar com meu amigo, o guitarrista Fábio Brum, que adorou a ideia. Fizemos a primeira edição em novembro de 2012 e mais duas outras aconteceram com nomes como Fábio Brum, Marcelo Watanabe, Ivan Márcio, Giba Byblos, Caio Carvalho e outros, sendo apenas uma noite de apresentação. Várias pessoas do estado do MS e de outras regiões me estimularam para que fizesse mais de uma noite, o que me levou a criar o Festival com três noites de apresentações, pois tínhamos uma diversidade de artistas para mostrar seus trabalhos e o respectivo público ansioso por novidades. O que provou ser perfeitamente viável a realização do Bonito Blues & Jazz Festival, não sem dificuldades e estamos chegando na 10ª edição neste ano.

4. Nos dias 8, 9 e 10 de Junho acontece a décima edição do festival. São 9 atrações. Fale sobre elas. Têm artistas do Brasil, Paraguai e Argentina...

Afonso Rodrigues Jr. - Nos últimos anos a programação do Bonito Blues & Jazz Festival tem se aproximado dos artistas dos países limítrofes, caso do Paraguai, desde 2018, e no ano passado com a participação de atrações da Argentina. O que nos levou a isso foi o fato do MS ter uma influência cultural muito presente no nosso cotidiano com a música, gastronomia e hábitos diários, como o tereré entre outros. Aí vimos com naturalidade essa aproximação inserindo na programação bandas “hermanas” com uma qualidade musical excepcional e sentimos a necessidade de apresentá-las ao nosso público.

Desta forma, teremos uma noite exclusivamente da moderna música paraguaia, com a participação da Band’Elaschica composta por 10 mulheres musicistas. Seguida pela VPL Blues, banda que tem como saxofonista, gaitista e vocalista, Dominique Bernal. Ele é conhecido da plateia bonitense, pois será sua quarta participação. A noite encerra com o ícone Toti Morel, na bateria, acompanhado das suas duas filhas Julieta e Gloria. 

A abertura do festival este ano será com o El Trio, dos músicos Gabriel Basso, Gabriel Andrade e Adriel Santos que são os grandes intérpretes do jazz sul-mato-grossense. Continuará com a música instrumental brasileira na figura do Walter Pinheiro, paulistano que mostrará nos metais a suavidade das suas interpretações. Terminando, a noite dedicada à música instrumental, o Boldrini Quarteto, de Curitiba, formação liderada pelo contra-baixista José Antonio Boldrini, um dos mais conceituados músicos do país no instrumento.

A última noite inicia com o guitarrista argentino Rula Cancino, com sua banda Rula y los de La Esquina, de Misiones. Um dos maiores guitarristas do nordeste argentino que mostrará seu blues pujante e que retrata o cotidiano da sua região.

A 10ª edição do Bonito Blues & Jazz Festival encerra com o guitarrista carioca Big Gilson, guitarrista, cantor, compositor e um dos maiores nomes do gênero do Brasil, já tendo tocado e recebido elogios do mestre B.B. King, que disse: “Quando vejo um jovem tocando blues tão bem assim e tão longe da América, sinto que minha missão nesta vida está cumprida”. Com mais de 30 anos de estrada Big Gilson encerrará o Bonito Blues & Jazz Festival em grande escala.

5. Dentro do festival acontecerá um encontro interessante chamado Circuito Cultural Guarani Conecta Mato Grosso do Sul. Como será? E qual o propósito?

Afonso Rodrigues Jr. - Em janeiro deste ano fomos convidados para participar da criação da Associação Circuito Cultural Guarani, o que foi efetivado em março/2023 com a participação de produtores culturais da Argentina, Brasil, Chile e Paraguai. O Circuito Cultural Guarani tem por objetivo a integração cultural entre os artistas desses países proporcionando intercâmbio entre os artistas por meio de eventos culturais a serem realizados pelos integrantes da associação nos países participantes.

O encontro “Circuito Cultural Guarani Conecta MS” no próximo dia de 10 junho, sábado, durante o Festival e objetiva a participação das autoridades do setor cultural do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, bem como Ministro da Cultura de Misiones, de Formosa e Corrientes, na Argentina e Asunción, Paraguai.

O Circuito Cultural Guarani vem de encontro a criação da Rota Bioceânica, que ligará os quatro países na questão econômica e turística, e pretende alavancar a participação cultural nessa região da América do Sul.

(*) Entrevista publicada originalmente no Blog do Alex Fraga

Leia Também

Relatos de viagem

A decoada, o armau e história de pescador no Pantanal do Nabileque

Mais Relatos de Viagem

Megafone

Todo equívoco humano é satirizável. Enquanto houver ser humano com suas carências, inseguranças e dúvidas, haverá sátira

Ziraldo (1932-2024)

Vídeos

Bonito, um convite à sustentabilidade

Mais Vídeos

Eco Debate

ARMANDO ARRUDA LACERDA

Pantanal expõe: vamos resetar velhos preconceitos?

NELSON ARAÚJO FILHO

Uma história de areias

HEITOR RODRIGUES FREIRE

Feliz Ano Novo