quarta, 11 de dezembro de 2024

Jorge Lara: “a Embrapa será um fórum neutro de discussões”

02 JUL 2017 - 11h52Por Sílvio Andrade

Ao assumir a direção da Embrapa Pantanal, com sede em Corumbá (MS), em maio, o veterinário Jorge Antônio Ferreira de Lara gerou uma expectativa muito positiva no meio do terceiro setor, dos segmentos ligados ao homem pantaneiro e e setor produtivo ao anunciar uma nova postura da unidade, que está no bioma há 42 anos.

Prometendo um modelo participativo, Iniciou seu mandato reunindo-se com as entidades representativas de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, buscando reaproximar o órgão dos diferentes segmentos, e colocando-o à disposição da sociedade e, principalmente do homem pantaneiro, para gerar resultados e não polêmicas.

Deixou claro – e aqui foi, embora não diga, um recado para alguns pesquisadores xiitas, que tomam posições próprias, se envolvem com organizações não governamentais e manipulam informações – que, sob sua chefia, a Embrapa Pantanal será um fórum neutro de discussões acerca de temas relacionados ao bioma, com critérios técnicos e legais como balizadores da atuação da unidade.

"Nossas decisões serão sempre baseadas em dados técnicos, nenhuma opinião sai dessa Unidade porque eu acho isso ou acho aquilo. Outra coisa: nós vamos cumprir a lei e ponto final”, decretou. Segundo Jorge Lara, além de garantir a idoneidade da organização, essas duas medidas promovem uma atuação útil da Embrapa para a sociedade. 

Jorge Lara é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre e doutor em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pós-doutor em Biotecnologia Animal pela Universidade de São Paulo (USP/Esalq). Tem formação complementar em gestão de empresas pela Fundação Dom Cabral (2007). Atua na Embrapa Pantanal há 13 anos, sempre na área de Ciência e Tecnologia da Carne. 

Nesta entrevista a Lugares, o chefe da Embrapa afirma que principais linhas de atuação serão a pecuária de corte, a agricultura familiar, a conservação genética das raças naturalizadas, como o cavalo e o bovino pantaneiro, e a pesquisa para aliar a conservação ao uso sustentável da biodiversidade:

1.Na sua posse, o senhor deixou bem claro que acabou o achismo, que a palavra da unidade será sempre técnica. Foi um recado a posições pessoais de pesquisadores?

“Foi um recado para todas as pessoas que não utilizam a ciência e a tecnologia para fundamentar suas opiniões. A Embrapa Pantanal, ao longo de sua história, tem apoiado diversas políticas públicas voltadas à região. Em todos esses momentos, nossas opiniões foram reflexo da interpretação de dados científicos, respeitando os limites da legislação. Assim, nossa orientação ao corpo técnico da unidade de pesquisa da Embrapa no Pantanal é que, ao ser acionado pelos diversos atores da sociedade pantaneira e pelos nossos parceiros, explique a todos que nossas respostas não podem simplesmente refletir opiniões de segmentos ou análises superficiais e momentâneas. Devemos, sim, convidar todos os interessados ao debate, respeitando o ritmo da pesquisa e nos antecipando às demandas para que tenhamos o tempo certo das respostas”.

2. Uma Embrapa como fórum neutro de discussões é a fórmula de reaproximar o órgão do seu público-alvo?

“A Embrapa Pantanal tem diversos públicos-alvo e atende aos mais variados segmentos da sociedade. Muitos desses usuários podem ter opiniões divergentes sobre algum tema relacionado ao uso do espaço rural do Pantanal. Como nossa empresa está próxima de vários atores regionais e externos ao bioma, acreditamos que o nosso espaço é público e democrático. Não temos como objetivo ouvir e discutir apenas com determinadas categorias, queremos que todos se sintam à vontade com nossa interlocução e que as respostas que juntos construirmos sejam sempre as mais inclusivas possíveis”.

"Temos muitas informações transformadas em conhecimento, mas nós precisamos incentivar a sua adoção" 

3. Como a Embrapa Pantanal vai se inserir na realidade do bioma nos próximos anos?

“A Embrapa Pantanal, para continuar inserida na realidade do bioma, deve procurar fazer as perguntas certas para o desenvolvimento econômico regional, bem como servir de conector entre as riquezas do Pantanal e os brasileiros que moram fora dele. Para isso, buscaremos dialogar com os setores da sociedade e vamos procurar, a todo momento, unir teoria e prática na solução dos problemas. Nossas principais linhas de atuação serão a pecuária de corte, a agricultura familiar, a conservação genética das raças naturalizadas, como o cavalo e o bovino Pantaneiro, e a pesquisa para aliar a conservação ao uso sustentável da biodiversidade. Será dado, ainda, um destaque especial às inciativas que apoiam o agroecoturismo e a apicultura. Além disso, os conceitos de inteligência territorial serão aplicados para a sugestão de uma matriz econômica regional por meio do emprego da tecnologia da informação. No entanto, o principal é a transferência de tecnologias já existentes e disponíveis para os pantaneiros. Temos muitas informações transformadas em conhecimento, mas nós precisamos incentivar a sua adoção e, paralelamente, estimular – através da comunicação – o interesse dos cidadãos para que eles mesmos se sintam à vontade para nos acionar sempre que precisarem. Nossas portas estão abertas para todos”.

4. Quais as principais linhas de sua gestão para contemplar o homem pantaneiro nesse novo olhar da Embrapa?

“Especificamente aos pantaneiros que prezam por manter suas tradições, a Embrapa Pantanal irá propor soluções que usem essa sabedoria e modo de vida como um agregador de valor para a região. Na pecuária pantaneira, por exemplo, a integração da produção com o meio ambiente é usual. Transformar isso em um protocolo que valorize a sustentabilidade com retorno econômico é o foco principal do sistema Fazenda Pantaneira Sustentável, um software já desenvolvido e em fase de implantação que avalia os níveis de sustentabilidade em diversos aspectos da propriedade rural. Além disso, o correto zoneamento do nosso bioma permitirá a realização de uma pecuária de precisão, que pode viabilizar a intensificação em determinadas microrregiões (com a substituição de pastagens, por exemplo). Em outras, o uso alternativo do espaço rural pode ser incentivado. Claro que recomendações como essas só são realizadas após a realização de pesquisas comprobatórias”.

5. O senhor fala em alternativas ambiental, econômica e social para a sustentabilidade do Pantanal. Como definir o que é o Pantanal?

“Temos algumas definições de Pantanal devidamente validadas e publicadas para os aspectos físicos e biológicos do bioma. Algumas questões relacionadas ao tema, inclusive, são motivo de discussão até hoje. No entanto, eu prefiro acreditar que o Pantanal é um conjunto dinâmico de inter-relações entre o homem, a natureza e o contínuo fluxo de cheias e secas que estabelecem os limites funcionais do Pantanal. É nessa alternância de estações ao longo dos anos que o regime hídrico determina os critérios do que é o bioma. Sem ele, podemos ter uma região no coração geográfico pantaneiro que nem parece Pantanal – ou, em seus extremos, áreas que se comportam ou não como parte dessa região em certos períodos. É por isso que esse delicado equilíbrio deve ser considerado em qualquer abordagem econômica, social ou ambiental que se faça no local, seja para discutir aspectos relacionados à produção, conservação ou à definição das áreas pertencentes ao bioma”.

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