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EMBARQUE

Terceira idade: dicas para o bem-estar no avião

07 DEZ 2019 - 07h37Por ERIKA MANHATYS/Correio Braziliense

Para alguns, uma longa viagem de avião é sinônimo de angústia e desconforto. A sonhada visita àquele destino que arranca suspiros pode ser protelada ou cancelada pelo medo das horas sobre as nuvens. A aerofobia, que significa o pânico de voar, envolve uma centena de fatores secundários, como a acrofobia, medo de altura ou a claustrofobia, que é o terror de estar em um local totalmente fechado. Entretanto, para além das fobias, voar pode ter um impacto mais relevante na saúde de um público específico, os idosos.

Não é tão comum ouvir relatos de pessoas que se sentiram mal ou até que sofreram algum problema de saúde mais grave em voos, mas o risco existe. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) afirma que ocorre em média uma emergência médica a cada 600 voos, o que corresponde a 16 emergências a cada um milhão de passageiros. Entretanto, disfunções cardiovasculares podem ser acentuadas durante as viagens e a atenção à saúde deve ser redobrada entre aqueles que já possuam alguma enfermidade ou que tenham predisposição a desenvolvê-la.

Vigilância 

Segundo a pesquisa do CDC, os problemas mais comuns são: síncopes ou pré-síncopes (37%); problemas respiratórios (12%); náusea ou vômitos (10%); problemas cardíacos (8%); e convulsões (6%). Os casos de morte durante voo são raríssimos e nenhum alarde é necessário por esses números anteriores. O mesmo estudo concluiu que ocorre somente 0,3 caso em um milhão de viajantes, sendo dois terços causados por problemas cardíacos.



A constante vigilância com a saúde pode evitar muitos desses problemas menores e dos mais graves também. A visita regular ao médico é uma das formas de prevenção, pois muitas doenças vasculares são silenciosas e assintomáticas. Doenças cardíacas costumam ser sintomáticas, mas grande parcela dos portadores ignora os sinais de alerta. E são justamente estes os casos que podem ser agravados durante as viagens aéreas pela falta de cuidado.

Prevenção é o melhor remédio 

Manter hábitos saudáveis é sempre o caminho mais seguro a seguir, mas há regrinhas simples que devem ser adotadas quando nas alturas. Boa parte dos problemas ocorre pela exposição a diferentes condições de pressão experimentadas em solo e no ar. As cabines dos aviões são pressurizadas a cerca de 1,8 a 2,4 mil metros, mesmo que esteja voando em altitudes bem maiores. Nessas condições, o ar se torna rarefeito e alguns sintomas começam a aparecer.

Fabrício da Silva, médico cardiologista do Hospital do Coração da Rede D’Ór São Luiz, diz que pacientes hipertensos ou diagnosticados com algum problema cardíaco e vascular, além dos grupos de maior vulnerabilidade, como idosos e obesos devem observar uma série de práticas a fim de se resguardar. “Para transtornos trombóticos, o maior risco é a hipomobilidade, ficar sentado por horas e horas no avião. O indicado é que a cada uma hora e meia a duas horas, o viajante se levante e caminhe. Uma ida ao banheiro já é o suficiente”, explica.

Para as doenças cardíacas, o fator de maior relevância dentro de uma aeronave é a oferta de oxigênio, que se torna menor em grandes altitudes. “Além de seguir o contínuo uso do seu medicamento, um paciente com aterosclerose ou insuficiência cardíaca, dois grupos mais comuns de doenças do coração, que estejam em grau mais agravado não são indicados a viajar de avião até que seu quadro esteja estabilizado. O mesmo vale para quem não é diagnosticado, mas que esteja sentindo angina (pressão ou dor no peito) ou falta de ar constante”, aconselha Fabrício.

A automedicação é uma prática que deve ser abolida não só em voos, mas sempre. “O uso de calmantes e indutores de sono não é indicado, assim como aumentar a dosagem do seu medicamento de uso contínuo. Os efeitos colaterais podem comprometer a saúde e o bem-estar do paciente. Qualquer ministração de medicamentos deve ser feita por um médico. O indicado é que o paciente medicado, sobretudo com os anticoagulantes, não protele o uso de seu remédio, ele deve ser tomado no horário”, esclarece o doutor.

As viagens aéreas não impactam no uso de equipamento de marcapasso, elas só devem ser evitadas durante o período de pós-operatório. “Exceto em casos de urgência, os voos comerciais carecem de prazo médio de 30 dias após a instalação do marcapasso. Este tempo também deve ser estendido a todos que se submeteram a uma a cirurgia cardíaca, podendo ser alterado pelo médico após avaliação clínica”.

É importante acompanhar sua saúde constantemente com um profissional da área. “Idosos que não apresentam o diagnóstico de nenhuma doença cardíaca ou vascular, basta visitar um médico anualmente. Aqueles que já sofreram um infarto ou tenham o diagnóstico de alguma enfermidade, é bom que vá a cada três ou quatro meses”, diz Fabrício.

“O mais importante é a mobilidade e a atenção ao uso dos medicamentos prescritos. Se o voo for noturno, programe seu alarme para a cada duas horas e caminhe um pouco, sobretudo nos voos comerciais, onde o paciente encontra-se sentado e com as pernas para baixo, dificultando a circulação sanguínea. Outro ponto é não ignorar os sinais de seu corpo, sentir dor no peito, em especial do lado esquerdo e sentir falta de ar nos exercícios do cotidiano, como lavar louça podem ser um indicativo de doença cardiovascular e precisa ser acompanhado por um médico”, afirma Fabrício.

Outras práticas simples também podem ser levadas em consideração para aumentar a segurança e o conforto, como recomenda Fabrício. “Para os pacientes com insuficiência cardíaca, eu aconselho que use o carrinho de malas no aeroporto para não carregar peso desnecessariamente. Também é legal programar o seu tempo com cautela, chegar com uma margem de segurança ao aeroporto, para não precisar se apressar e correr. Essas pequenas atitudes fazem parte do planejamento e são um diferencial para a saúde e bem-estar”, conclui. 

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