sexta, 19 de abril de 2024
PESCA ESPORTIVA

Rejeição do projeto do dourado frustra o trade, que pede pesque-solte

26 JUN 2017 - 20h55Por Sílvio Andrade

A decisão política e não técnica da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul de arquivar o projeto de lei que previa a proibição da pesca do dourado por oito anos nos rios do Estado foi considerada um retrocesso pelos empresários de turismo de Corumbá, cidade que renovou a moratória de cinco para dez anos em ato sancionado na semana passada pelo prefeito Ruiter Cunha de Oliveira.

Depois de passar por comissões, o projeto foi discutido pelos segmentos ligados aos pescadores profissionais e, ao final, prevaleceu a pressão de algumas entidades que eram contrárias à medida, muitas delas situadas em redutos eleitorais dos deputados, como a cidade de Coxim, um dos polos de pesca esportiva do Estado.

Joice Santana: campana pelo pesque-solte há cinco anos

Na contramão

O presidente da Colônia de Pescadores Z-2, de Coxim, Armindo Batista dos Santos, alega que a proibição diminuiria o fluxo de turistas na região da bacia do Taquari. “A maioria dos turistas quer levar o dourado”, diz ele. E foi de Coxim que veio o “voto minerva” para desempatar a votação, contra o projeto, com o representante da região, deputado Junior Mochi.

O argumento usado pelo dirigente da colônia coxinense contrapõe à realidade da pesca esportiva em Corumbá, onde o pescador amador, por unanimidade, é a favor não apenas da proibição da captura do dourado, que já ocorre no município desde 2012, como da introdução do pesque-solte. Esta prática já é usual em alguns países vizinhos, como a Argentina e Paraguai.

“Nosso Estado está na contramão da legislação pesqueira de outros mercados concorrentes ao liberar a captura do peixe”, lamenta a empresária corumbaense Joice Santana, proprietária de uma das principais estruturas de pesca esportiva da região. “Se nós empresários, que trabalhamos com peixe, pedimos que se introduza o pesque-solte, por que os governantes não se manifestam?”, cobra ela.

Luiz Martins: por que liberar anzol de galho ao pescador profissional?

Sem controle

Outro empresário de Corumbá, Luiz Antônio Martins, dono de frota de barcos-hotéis e de hotéis, também questiona o fato de o Estado não abraçar essa causa pelo repovoamento dos rios do Pantanal, alguns já com estoques comprometidos. “Hoje o que prevalece em outros países é o pesque e não leve”, diz dele, indignado com o arquivamento do projeto do dourado no parlamentar estadual.

“A natureza não se recupera na proporção da retirada do pescado e, infelizmente, nossa Polícia Ambiental não tem efetivo e estrutura suficientes para controlar uma região como o Pantanal”, segue Martins. “Precisamos de leis mais punitivas, senão perdemos o mercado, que vem se mantendo e ajudando a sustentar a economia da região, para outros países.”

Para Joice Santana, a proibição da pesca do dourado surtiu efeitos e hoje já se percebe que o cardume aumentou na sua região, onde já se pescou o chamado “rei do rio” com até oito quilos. “O pescador vibra quando fisga um dourado, mas não quer levar o peixe. O pescador está nos cobrando uma atitude, estamos sendo pressionados”, aponta.

Pescador profissional hoje é explorado por atravessores que atuam no comércio clandestino do pescado

Mais consciência

A empresária mostrou a reportagem pesquisa sistemática que realiza em cada viagem de grupos de pescadores em seus barcos pelo Rio Paraguai. Todos apoiam o pesque-solte e dão depoimentos em vídeos, como os pescadores José Cláudio, de Jarinu (SP), Leopoldo Meyer, de São José dos Pinhais (PR) e Ricardo Acorci (Jundiai-SP), respondendo “sim” à pergunta: vocês voltariam ao Pantanal com cota zero?”

A consciência dos pescadores quanto à sustentabilidade do ecossistema pantaneiro, segundo Joice, chega ao extremo de o turista que viaja no seu barco não deixar ao menor tirar o peixe do rio para degusta-lo. “Eles zangam”, diz. Hoje, dos 40 grupos que vão a Corumbá anualmente com a empresa de Joice, pelo menos 18 já não levam mais o peixe.

Maior destino de pesca esportiva do País em água doce, Corumbá conta com uma frota de 24 barcos de pesca e mais 40 embarcações para esporte recreio. Somente a pesca esportiva, modalidade de turismo que se desenvolveu na região desde os anos de 1970, hoje gera 640 empregos diretos e mais 1.600 indiretos.

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