quarta, 24 de abril de 2024
AMEAÇA

Pesquisa identifica redução do número de papagaios no Pantanal

04 JAN 2020 - 12h02Por REDAÇÃO

Um estudo que monitorou cinco dormitórios de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) no sul do Pantanal brasileiro, em Mato Grosso do Sul, identificou uma diminuição de 50 indivíduos jovens por ano na quantidade de animais que deveriam integrar as populações locais da espécie, enquanto se esperava um aumento anual de 200 nesses grupos.

As investigações foram conduzidas pela zootecnista Gláucia Seixas e orientadas pelo pesquisador da Embrapa Pantanal, com sede em Corumbá, Guilherme Mourão. Juntos, eles reuniram e avaliaram dados de um monitoramento que cobriu uma área aproximada de 2,7 mil km² em Mato Grosso do Sul.

O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é uma das espécies de papagaio mais conhecidas em todo o Brasil. A ave pode ser encontrada no Pantanal e também nas regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul do País, além de países como Paraguai, Argentina e Bolívia.

Seu tamanho varia de 30 a 40 centímetros.

Os pesquisadores realizaram uma contagem por mês em cada dormitório por cerca de cinco anos, realizadas ao pôr-do-sol, quando os papagaios chegavam às árvores dos dormitórios para passar a noite, totalizando cerca de 250 contagens e quase 500 horas de observação.

Segundo as informações descritas no estudo, os dormitórios receberam grupos que variaram de 110 indivíduos, aproximadamente, a pouco menos de três mil animais em diferentes meses do ano. Somando os dados dos cinco dormitórios, esse valor variou de 1.720 a 5.300 papagaios, em média.

Os dados foram publicados no artigo Communal roosts of the Blue-fronted Amazons (Amazona aestiva) in a large tropical wetland: Are they of different types? , disponível em inglês.

Redução de 50 aves jovens por ano

O estudo descreve que a porcentagem média de papagaios solitários nas populações monitoradas variou de 1,3% a 35,9% durante os períodos de incubação (de agosto a setembro).

De acordo com Mourão, o aumento do número de solitários nos dormitórios coincidiu com o período de reprodução dos animais. Ao contar a quantidade de solitários adultos, o estudo determinou quantos casais estavam em reprodução na época.

“Esse é o primeiro estudo que indica a proporção de solitários para inferir o número de casais tentando se reproduzir naquele ano – uma proporção que tem se mantido”, completa.

Já a porcentagem média anual de papagaios jovens nas populações variou de 1,5% a 9,3%. Avaliando os dados dos cinco dormitórios, seria esperado um aumento médio de 200 jovens por ano. Porém, foi registrada uma diminuição de aproximadamente 50 indivíduos jovens anualmente nas populações monitoradas.

Assim, embora a quantidade de pares reprodutivos e de indivíduos na população como um todo tenha se mantido estável, os pesquisadores verificaram que o número de animais jovens que retornaram à população diminuiu.  

“Em geral, os números de pares de papagaios e de solitários usando os dormitórios aumentou ou flutuou em torno da média, indicando que o mesmo número de pares estava tentando se reproduzir todo ano. Independentemente disso, as tendências dos jovens estavam decaindo rapidamente ao longo do tempo. Tanto o número de bandos familiares quanto o de jovens nesses bandos diminuíram ao longo do período de monitoramento”, explica Gláucia Seixas.

“Eles se reproduzem, mas os filhotes não estão entrando na população adulta, indicando que algo está acontecendo no meio do processo”, completa Mourão.

Aves se reproduzem, porém muitos filhotes não chegam à idade adulta. Fotos: Glaucia Seixas

Caça ilegal: principal ameaça

O baixo retorno de jovens às populações adultas, observa o pesquisador, pode indicar problemas como a retirada dos filhotes por meio da caça ilegal, impactos causados por mudanças climáticas ou a perda de habitat (esse último fator também pode aumentar as taxas de predação dos papagaios).

“Essa informação pode ser especialmente preocupante, já que poderia afetar a percepção das autoridades de fiscalização em relação às populações ameaçadas”, alerta Seixas.

A pesquisadora ressalta que, embora estudos recentes tenham indicado que a captura para o comércio de animais de estimação tenha sido o principal fator ameaçando a maior parte das populações de papagaios estudadas, a equipe não possui evidências diretas de que a captura tenha sido uma ameaça grave na área avaliada.

Ela também esclarece que o grupo não notou aumentos na frequência de eventos climáticos severos durante o período de monitoramento ou sinais de doenças graves entre os papagaios.

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