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Mamífero saltava no Brasil há mais de 140 milhões de anos

16 JUL 2017 - 10h04Por Redação

Brasilichnium é o nome dado pelos cientistas às pegadas fossilizadas do mamífero mais antigo de que se tem conhecimento que tenha vivido no Brasil.

O nome é dado às marcas, uma vez que sobre os pequenos quadrúpedes autores não se sabe quase nada, a não ser que habitavam o paleodeserto Botucatu, imensa área coberta por dunas de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados que cobria o centro-sul do Brasil entre 150 e 140 milhões de anos atrás, na transição dos períodos Jurássico ao Cretáceo.

As pegadas foram preservadas em lajes de arenito, um tipo de rocha que originalmente era a areia das dunas. A espécie, ou melhor, a icnoespécie Brasilichnium elusivum (de “ichnos”, que em grego quer dizer pegada), foi descrita em 1981 pelo missionário e paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi, com base em dezenas de lajes de arenito retiradas de uma pedreira em Araraquara (SP) e também espalhadas pelas calçadas daquela cidade no interior paulista.

Novos registros

Ainda não foram achados na Formação Botucatu esqueletos fósseis de um possível autor das pegadas B. elusivum. Mas pegadas e pistas, essas existem às centenas. No início dos anos 1980, Leonardi estudou lajes com pistas de um pequeno mamífero caminhando. Outras pistas evidenciam um animal correndo ou galopando.

No primeiro semestre de 2017, passados quase 40 anos da descrição original de Leonardi, foram publicados três trabalhos sobre Brasilichnium. Dois deles descrevem duas novas icnoespécies do gênero. Um terceiro trabalho revela que os animais que produziram as pegadas B. elusivum também se locomoviam aos saltos.

Brasilichnium anaiti é o nome de uma nova icnoespécie do gênero Brasilichnium. Trata-se de uma pegada com o dobro do tamanho das pegadas B. elusivum descritas por Leonardi. O animal que as produziu pode, portanto, ter pertencido a outro táxon que não o responsável pelas pegadas B. elusivum.

A descrição de B. anaiti foi publicada no periódico Ichnos. Os autores são o italiano Simone D’Orazi Porchetti e os paleontólogos Max Cardoso Langer, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), e Reinaldo José Bertini, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro. D’Orazi Porchetti é doutor pela Universidade de Roma “La Sapienza”.

Ancestrais

D’Orazi Porchetti analisou lajes guardadas no Museu de Paleontologia e Estratigrafia “Prof. Dr. Paulo Milton Barbosa Landim”, da Unesp, em Rio Claro. Oito lajes preservam pistas teromorfoides, ou seja, que foram feitas por animais do grupo dos mamíferos atuais e seus ancestrais diretos.

Todas as lajes preservam impressões de pegadas bem maiores do que as B. elusivum. Um total de 41 impressões de pés associadas a 19 impressões de mãos foram estudados pela primeira vez. Ao medir as pegadas, D’Orazi Porchetti constatou que elas têm praticamente o dobro do tamanho de B. elusivum.

Enquanto as pegadas de pés de B. elusivum não ultrapassam 30 milímetros de largura, o comprimento médio das pegadas naquelas oito lajes é de 44,58 milímetros e sua largura média é de 61,64 milímetros.

Uma diferença que, associada a outros detalhes morfológicos, justificou a descrição de uma nova icnoespécie, B. anaiti (“anaiti” em tupi guarani quer dizer grande). D’Orazi Porchetti só identificou pistas do B. anaiti em caminhada.

“Na icnologia, descrever uma icnoespécie não é o mesmo que descrever uma espécie extinta, quando descrevemos marcas deixadas por animais no sedimento ou em outro meio. Uma icnoespécie define, no caso, um tipo peculiar de pegada. Um nome na icnologia é um modo simples e inequívoco de indicar um conjunto de caracteres”, disse D’Orazi Porchetti.

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