quinta, 25 de abril de 2024
FRONTEIRA

Embrapa e FAO discutem abastecimento alimentar

13 JUL 2017 - 21h26Por Redação

A peculiar dinâmica do abastecimento alimentar em zonas urbanas fronteiriças como a de Corumbá (MS) são o objeto de estudo em um relatório encomendado pelo Escritório Regional para a América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

 A instituição sem fins lucrativos entrou em contato com a unidade pantaneira de pesquisa da Embrapa como um ponto de partida para discutir quais são e como se estabelecem as relações de produção e consumo de alimentos nas fronteiras.

“Queremos entender, caracterizar e propor condições para melhorar o abastecimento de frutas, legumes e verduras entre Brasil e Bolívia”, diz o engenheiro agrônomo e consultor da área de abastecimento, comercialização e segurança alimentar da FAO, Altivo Andrade.

Ele ressalta a atual importância, para organismos internacionais, de questões relacionadas às fronteiras e ao fluxo migratório. “Como isso se relaciona com a segurança alimentar? Como o alimento chega nessas cidades com regularidade, com qualidade? ”.

Corumbá e a fronteira

Para debater essas questões, o chefe-geral da Embrapa Pantanal, Jorge Lara, abordou em uma reunião com o representante da FAO as características da região em que a unidade de pesquisa está inserida.

“É uma área bem dinâmica. Além da sazonalidade, também existem as características particulares a cada comunidade. Em linhas gerais, a impressão predominante é a de que as cidades são complementares em relação às opções de produtos e suas quantidades. Às vezes, a Bolívia produz alimentos que não temos no Brasil, suplementando o que falta em Corumbá”, afirma.

O Brasil possui 27 arranjos populacionais (aglomerações de população) fronteiriços, somando mais de dois milhões de habitantes. Destes, 44,2% vivem em países vizinhos. Entre os cinco arranjos de Mato Grosso do Sul está o arranjo populacional internacional Corumbá/Brasil, formado pelas cidades de Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro e Puerto Suárez.

O arranjo reúne mais de 150 mil habitantes – cerca de 123 mil no Brasil e 28 mil na Bolívia. De acordo com estudo do IBGE, mais de 86 mil pessoas trabalham e estudam nesses municípios e unidades administrativas. Destas, cerca de 4.300 se deslocam entre as cidades para tal.

As pessoas que transitam pela fronteira mantêm relações de comércio e intercâmbio cultural entre os países. “Os assentamentos de Corumbá têm algumas limitações para a produção de todos os alimentos da nossa cesta básica, algo influenciado por questões como a falta d’água em algumas propriedades. Às vezes, a suplementação nesses casos vem da Bolívia”, diz Lara. “Essa troca ainda necessita de uma compreensão maior para que esse abastecimento, que ocorre naturalmente, se torne uma política de Estado. Basta andar pelas feiras de Corumbá para ver a quantidade de bolivianos vendendo seus produtos. É importante mapear e quantificar esse tipo de troca”.

Fronteira global

Durante a viagem à região, o consultor da FAO visitou feiras, instituições e produtores de alimentos nos dois países. “Só é possível entender Corumbá vindo a Corumbá”, conta. “Existe aqui uma complementariedade muito grande de conhecimentos e é de alto interesse do Brasil que haja uma produção boliviana com qualidade sanitária, fitossanitária e com um uso racional de insumos. Há também um interesse muito grande por parte dos bolivianos em ter acesso ao mercado brasileiro, que é importante e beneficia uma população que não tem condições de acesso a supermercados”.

Andrade afirma que o contato com instituições locais é uma maneira de criar um panorama mais fiel à realidade do abastecimento alimentar local no relatório. “A fronteira aqui tem características muito peculiares, únicas, interessantes – especialmente do ponto de vista de instituições como a Embrapa, o Centro de Investigação Agrícola Tropical (CIAT) na Bolívia, a UFMS, a Agraer, o órgão de desenvolvimento agrário do departamento de Santa Cruz”, conta.

“O desejo da FAO, ao desenvolver um estudo aqui, é, exatamente, entender as condições peculiares dessa região fronteiriça, saber como se dá essa integração. Compreender essas condições faz com que possamos propor um modelo de discussão para os milhares de quilômetros de fronteiras que existem na América Latina”.

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