quarta, 17 de abril de 2024
PANTANAL

Dourado reaparece nos rios e anima setor de pesca em MS

Moratória do "rei" do rio surte efeitos e empresários apostam na cota zero a partir de 2020

30 JUN 2019 - 15h36Por SILVIO DE ANDRADE

Com a moratória do dourado e a proibição da captura e transporte das demais espécies de peixes das bacias dos rios Paraguai e Paraná por pescadores amadores, a partir de 2020, Mato Grosso do Sul poderá se tornar o maior polo de pesca esportiva, hoje um dos segmentos que mais cresce no Brasil, aliado às belezas do Pantanal. Será um destino diferenciado, unindo a esportividade do “rei” do rio (dourado) e a exuberante fauna e flora do bioma com mais de 80% de sua área preservada. 

Esta perspectiva está sendo desenhada não apenas pelo Governo do Estado, que proibiu a matança do dourado por cinco anos e zerou a cota de pesca, mas pelo trade turístico e especialistas em pesca esportiva. A moratória do dourado já surte efeito nos rios da bacia pantaneira, onde a espécie voltou a predominar, e o mercado da pesca trabalha com um cenário otimista para a temporada de 2020 quanto ao fluxo de pescadores ao Estado. 

No último feriado prolongado, conforme relatos de pescadores e empreendimentos de pesca, o dourado foi o peixe mais fisgado em rios como o Paraguai, Miranda e Aquidauana, nas regiões de Corumbá, Miranda, Porto Murtinho, Bonito e Aquidauana. Algumas espécies chegaram a pedir 90 centímetros e 12 quilos. Em recente encontro de pesca esportiva no Passo da Lontra (Corumbá), o dourado também liderou a disputa pelo maior exemplar. 

Luiz Martins, empresário de turismo de Corumbá

Mais turistas: novo perfil 

“Tem ocorrido desistência de pacotes pela falta do peixe e não por causa da cota zero”, afirma o empresário Luiz Antônio Martins, um dos pioneiros em pesca amadora em Corumbá, principal destino desse esporte no Estado. “Diminuiu o número de pescadores porque você fica cinco dias no rio e não pega um peixe nobre. Foi assim que perdemos o mercado para outras regiões e para a Argentina, que saiu na frente na preservação do dourado”, diz ele. 

A avaliação do empresário é unânime entre os operadores: pode ocorrer uma queda de 20% no movimento de pescadores no Pantanal, no próximo ano, mas a médio prazo, estima-se um crescimento do setor em mais de 40%. “Essa queda será compensada com o aumento do estoque pesqueiro. O dourado já reapareceu nos rios, todo barco de Corumbá pesca o nosso “rei” do rio e vamos atrair esse turista brasileiro que vai para a Argentina”, aposta Martins. 

Com uma das maiores estruturas fluviais – são 60 barcos operando, entre pesca e esporte e recreio -, Corumbá reduziu seu fluxo turístico nos últimos anos por conta da dificuldade de se pescar um dourado, pacu, pintado ou jau, principais espécies. No ano passado, a cidade recebeu 20 mil pescadores, metade do registrado há dez anos. “Metade dos nossos clientes não leva mais peixe. A cota zero vai mudar o perfil desse pescador”, diz o empresário atual presidente da Acert (Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo). 

Pesca no Rio Paraguai, Serra do Amolar, Corumbá: cenário de natureza deslumbrante. Foto: Sílvio de Andrade

Um destino diferenciado 

Mato Grosso do Sul é o único destino de pesca que tem uma biodiversidade com a do Pantanal, cuja riqueza ambiental deve ser mais explorada e integrada a esse segmento esportivo, afirmou o secretário-adjunto da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Agricultura Familiar e Produção), Ricardo Senna. Ele participou da elaboração da nova legislação de pesca decretada pelo governador Reinaldo Azambuja. 

“Vamos promover o Pantanal como um lugar onde se pesca e se faz safari fotográfico”, disse ele. Para atrair o turista brasileiro e estrangeiro para esse santuário ecológico, segundo Senna, é preciso garantir o peixe, que já não se captura como há uma década. “Com o apoio do trade turístico e associações de pescadores à cota zero, vamos inserir Mato Grosso do Sul na rota dos grandes negócios da pesca e do ecoturismo, diversificando a nossa economia”, frisou. 

O secretário-adjunto apontou que o Estado é um mercado em potencial dentro da pesca esportiva para atrair os 70 mil brasileiros que vão em busca do dourado em Corrientes, na Argentina, gastando em média dois mil dólares por viagem e gerando meio bilhão de reais por ano”, citou, lembrando que hoje apenas 50 mil pescadores vêm ao Estado, deixando R$ 200 milhões. “É o mesmo rio (Paraná), mas lá (Argentina), o pescador pega e solta; aqui, ainda se mata o peixe.”

Ricardo Senna, da Semagro: atrair o mercado náutico e mais turistas

 

Mais peixe, mais turista 

Senna citou o sucesso do torneio de pesca esportiva de Três Lagoas esse ano, que reuniu mais de 300 amantes desse esporte de 12 estados, com faturamento de R$ 2 milhões pelo comércio local, e o evento realizado no Passo do Lontra (Estrada-Parque, em Corumbá), com lotação do hotel promotor. Avaliou que a pesca pode ser integrada aos roteiros turísticos e ter um calendário próprio, abrangendo os principais destinos, como Corumbá, Coxim, Miranda e Porto Murtinho. 

“Proibir a captura dos peixes do Pantanal, como fez Mato Grosso do Sul, é o modo mais prático e sustentável para repovoar os rios e trazer o turista para o estado, o exemplo está na Argentina”, afirmou o diretor da Confederação Brasileira de Pesca Esportiva (CBPE) e presidente da Federação Paulista de Pesca Esportiva, Ivan Miraldo em visita ao Pantanal. “A cota zero significará, com certeza, mais peixes, mais pescadores e mais recursos para a região.” 

Experiente pescador e conhecedor do ambiente aquático pantaneiro, o argentino Javier Enrique, do canal Fish TV, fala com absoluta convicção: a proibição da captura do dourado em Corumbá, desde 2012, deu uma sobrevida à espécie, ameaçada pela pressão da pesca. Ele afirma que a cota zero trará “dividendos extraordinárias” à ictiofauna, além de retomar a atratividade da pesca esportiva no Estado. “Concordo em 100 por cento com a cota zero”, declarou

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