terça, 23 de abril de 2024

Pesquisadora fala sobre morte de araras-azuis no Pantanal

19 AGO 2017 - 06h30Por Bruno Calixto/Blog do Planeta

Biólogos que estudam a fauna do Pantanal estão preocupados com o que parece ser uma situação anormal de morte de araras-azuis na região. Só neste ano já foram relatadas 30 mortes em Mato Grosso – um número alto. Em 2015, houve um episódio semelhante, com 18 indivíduos mortos em Mato Grosso do Sul e 83 em Mato Grosso. Até o momento, ninguém sabe explicar por que isso está acontecendo.

Especialistas se reuniram em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para discutir as causas do fenômeno. Os pesquisadores descartaram a ocorrência de doenças de notificação obrigatória, como a gripe aviária. Um trabalho de monitoramento será feito para tentar entender o que acontece na região. Após a reunião, ÉPOCA conversou com a pesquisadora Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul. Ela falou sobre a situação das araras.

Confira a entrevista:

1. O que está acontecendo com as araras do Pantanal?
Neiva Guedes – Nós ficamos surpresos e preocupados com a morte das araras-azuis em 2015 e o fato voltou a se repetir em 2017. O que mais nos preocupou foi o fato de saber que as araras-azuis são extremamente especializadas no requerimento do hábitat na natureza. São dependendes de basicamente três plantas para sobreviver: uma árvore onde fazem o ninho para se reproduzir, que é o manduvi, e duas palmeiras para alimentação, bocaiuva e acuri, das quais elas comem somente a castanha. Além disso, as araras-azuis têm baixa taxa reprodutiva, pois a maioria dos casais produz apenas um filhote por ano, após os 7 a 8 anos de idade. Logo, essa mortalidade nos preocupou muito. Por isso, fomos solicitar o apoio do Ministério do Meio Ambiente e dos outros órgãos de sanidade animal para nos ajudarem a montar um plano de ação.

2. Essas mortes estão acontecendo apenas no Pantanal?
Neiva – As mortes ocorreram em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso em 2015. Neste ano, detectamos apenas em Mato Grosso.

Bando de araras-azuis na Estrada Pasrque, em Corumbá. Foto Sílvio Andrade

3. Quão raro ou anormal é o registro dessas mortes?
Neiva – O encontro de araras-azuis adultas mortas na natureza é bem raro. Nos últimos 27 anos em que temos monitorado as populações de araras no Pantanal, vimos muito pouco, menos de 40 indivíduos ao longo dos anos. Quando encontramos, é por predação [outro animal] e, mais recentemente, choque com rede de energia. É realmente raro encontrar araras-azuis mortas na natureza, até porque a região é muito grande. Não há muita gente andando, e animal morto serve de alimento para outras espécies que comem carcaças. Por isso, o encontro de diversas araras mortas e carcaças em 2015 nos alertou. O fato não ocorreu em 2016 e voltou a ocorrer em 2017.

4. Há hipóteses sobre o que pode estar acontecendo? 
Neiva – Ainda não temos um diagnóstico para a causa das mortes. Os órgãos oficiais de defesa sanitária foram notificados e as pesquisas realizadas descartaram a ocorrência de doenças de notificação obrigatória, como influenza aviária e doença de Newcastle. Os especialistas reunidos concluíram que a ocorrência está limitada a uma população de araras-azuis em vida livre no Pantanal. O monitoramento já teve início. Pelo que discutimos, diversos fatores podem estar atuando em conjunto, como mudanças climáticas, perda, fragmentação e descaracterização de hábitat, intoxicação etc., como tem acontecido com outras aves no mundo inteiro. Porém, nesse caso, a morte tem acometido apenas as araras-azuis em vida livre. Dos exames já realizados, as doenças transmitidas por vírus e que causam maiores preocupações, como gripe aviária, deram resultados negativos, ao menos nos laudos analisados até agora.

5. Essas mortes colocam a espécie em ameaça? Seu status de conservação pode piorar?
Neiva  – Temos de monitorar para fazer qualquer afirmação. Essas mortes têm sim um impacto na população, pois sabemos que não morrem tantos indivíduos de uma vez só na natureza. Sabendo que elas precisam de poucas espécies de plantas para sobreviver e que têm baixa taxa reprodutiva, essas mortes são preocupantes. Se nada for feito, a situação pode piorar. Por isso, já estamos tomando as medidas para identificar as causas, junto aos órgãos ambientais e especialistas.

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